Faixa-preta em generosidade

A história do promotor de vendas Eliseu Viana, que doa lições de vida e jiu-jítsu para crianças carentes do Rio de Janeiro

 

Em janeiro de 2020, duas crianças de uma comunidade na Curicica, no Rio de Janeiro, viajaram para os Estados Unidos. Nataly, de 11 anos, e Luiz Felipe, de 13, foram participar do Pan Kids, o maior torneio de jiu-jítsu infanto-juvenil do mundo.

No Brasil, um colaborador da Quatá acompanhou com especial orgulho a viagem. O promotor Eliseu Cristian Negreiros Viana, de 35 anos, é o professor da dupla em um trabalho social que criou e desenvolve de maneira voluntária, o projeto Reviver Jiu-Jítsu. Todas as segundas, quartas e sextas-feiras, ele volta do trabalho, troca de roupa e fica das 17h às 19h30 dando aulas de jiu-jítsu e orientações de vida para quarenta crianças de famílias carentes em um espaço cedido por uma ONG do bairro.

Ver dois de seus alunos selecionados para participar do Pan Kids foi uma enorme vitória para Eliseu. “Eu acredito muito na força do esporte para tirar as crianças de caminhos perigosos como as drogas”, ele explica.

O promotor da Quatá tem lembranças tristes desse problema: seu pai era dependente químico e, por isso, quem sustentava a família era principalmente a mãe, empregada doméstica, e os filhos que começavam a trabalhar ainda adolescentes. Eliseu é o quarto de sete irmãos, e ele próprio começou a trabalhar aos 13 anos, vendendo banana na feira.

Desde então, já atuou como fiscal de loja, estoquista, motorista, promotor de vendas de empresas de temperos e de pães e, desde 2018, trabalha na Quatá. Atualmente, cuida da reposição de queijos em dez supermercados do Rio de Janeiro.

A mãe é falecida, e o pai se curou da doença – hoje, ambos mantêm ótimo relacionamento. “Eu perdoei o meu pai”, ele diz. Um momento de muita tristeza este ano foi a perda de um irmão para o coronavírus. Portador de deficiência mental, ele contraiu a doença no hospital para o qual havia sido levado para tratar uma úlcera de estômago.

Vice-Campeão De Jiu-Jítsu

O esporte sempre foi uma das grandes paixões na vida de Eliseu. Ele fez natação na adolescência e, aos 18 anos, começou no jiu-jítsu. Chegou a praticá-lo todos os dias da semana durante três horas e teve excelentes resultados em competições, como o vice-campeonato no torneio pan-americano para praticantes de faixa roxa. Há três anos, a paixão foi canalizada para o projeto Reviver Jiu-Jítsu, que iniciou em parceria com um irmão e hoje segue sozinho, com a ajuda de dois auxiliares. Eliseu é membro da Igreja Pentecostal Reviver, que inspirou o nome da iniciativa e cedeu espaço nos primeiros meses.

 

“Eu acredito muito na força do esporte para tirar as crianças de caminhos perigosos como as drogas”

 


As crianças que Eliseu treina no projeto Reviver Jiu-Jítsu

O promotor de vendas da Quatá é casado com Roberta, que começou a namorar na adolescência. “Mais do que uma grande companheira, ela é também minha grande incentivadora”, ele descreve. Quando terminou o ensino médio, Eliseu não teve condições de continuar os estudos, uma pendência pela qual sempre se cobrou. Há dois anos, estimulado pela esposa, matriculou-se em um curso tecnológico de marketing, que deve concluir ainda este ano.

O casal tem uma filha, Maria Eduarda, de 14 anos, que herdou o gosto de Eliseu para o esporte. Ela fez balé na infância e atualmente participa como aluna do projeto de jiu-jítsu desenvolvido pelo pai. “É muito gratificante passar meus finais de tarde com ela e com os outros meninos”, ele resume.

Para o final do ano, além da graduação em marketing, Eliseu tem encontro marcado com outra conquista importante, esta relacionada ao jiu-jítsu: “Vou virar faixa-preta”. Um exemplo para as quarenta crianças que ele, com sua generosidade, treina para o esporte e para a vida.