Aos 8 anos, ela vendia picolé na rua

 

Muito trabalho, muito estudo e um amor de novela marcam a vida da supervisora de qualidade Edna Duarte, do laticínio de Vazante.

 

A supervisora de qualidade Edna Pereira Duarte, de 38 anos, do laticínio de Vazante (MG), começou a trabalhar bem cedo e atuou em diversas ocupações. Emendando um trabalho no outro, a partir dos 8 anos de idade, vendeu alface e picolés nas ruas de Vazante, foi babá, empregada doméstica, recepcionista de consultório, operadora de brinquedos em shopping center e estagiária em uma cozinha industrial até entrar na Quatá, no início de 2005, como analista de laboratório. Nos anos seguintes passaria para a área de qualidade e seria promovida ao cargo atual.

 

No campo dos estudos, a trajetória também é longa. Estudando sempre à noite para conciliar com os empregos, Edna fez curso técnico de alimentos, faculdade de biologia, pós-graduação em gestão, licenciamento e auditoria ambiental e MBA em administração estratégica de qualidade.

 

Essa sequência de trabalhos e cursos revela ao mesmo tempo a origem humilde e a determinação que caracterizam a supervisora de qualidade da Quatá. Segunda filha de uma família de quatro irmãos, Edna teve que lutar pela vida desde a gestação. Sua família morava na fazenda em que os pais trabalhavam, e sua mãe, sem acesso ao pré-natal, não teve a assistência necessária para tratar a perda constante de líquido amniótico durante a gravidez. Como resultado, Edna nasceu ao término da gestação, aos nove meses, mas com menos de 900 gramas de peso, tendo de passar os primeiros dias de vida em uma incubadora.

 

“Meu pai queria que a gente fosse independente e dizia que, para se tornar alguém na vida, era preciso começar a trabalhar cedo.”

 

Aos 6 anos, a família mudou-se para Vazante, o pai foi trabalhar em uma mineradora e a mãe, como cozinheira. Dois anos depois, começaria a ajudar no sustento da família. Se nos tempos de hoje o início precoce no trabalho é considerado inadequado e ilegal, Edna conta que, no caso de seu pai, já falecido, isso era visto como parte da educação. “Meu pai queria que a gente fosse independente e dizia que, para se tornar alguém na vida, era preciso começar a trabalhar cedo”, ela recorda. Em sua família, essa forma de educar deu certo: embora os pais tenham estudado apenas até a 4ª série primária, os quatro filhos concluíram o curso superior.

 

No amor, Edna viveu uma história digna de novela. Aos 10 anos de idade, ela conheceu Ivo, um menino um ano mais velho, por quem teve inicialmente uma paixão infantil. Na adolescência, engataram um namoro que acabaria sendo interrompido pela distância quando ambos foram morar em cidades diferentes para estudar. Tiveram outros relacionamentos, até que um dia, no final de 2014, pouco depois de Edna dar à luz a filha Victória, ela se sentiu pressionada pelos colegas de trabalho a levar o namorado à festa de fim de ano da Quatá. “Mas eu não tinha namorado”, ela recorda. Sabendo que Ivo estava na cidade, perguntou se ele não a acompanharia à festa. Um mês depois, foi pedida em namoro – e os dois estão juntos desde então.

 

Além de Victória, hoje com 7 anos, a família se completa com a caçula Joana, de 3. Ivo é agrônomo e dirige um centro de pesquisa da Universidade Federal de Viçosa no município de Capinópolis.

 

Edna conta que sempre questionou muito as razões que fazem algumas pessoas terem vida muito sofrida, enquanto outras não passam por tantas provações. Ela e o marido encontraram na doutrina espírita as respostas para esse tipo de angústia e orientação para a própria vida. A supervisora de qualidade da Quatá frequenta o centro Fraternidade Espírita André Luiz e faz a leitura do evangelho em casa uma vez por semana.

 

Com a mãe, Luiza, que a ajuda a cuidar das filhas

A mãe, Luiza, continua sendo outro alicerce em sua vida. Elas moram a duas casas de distância uma da outra, e vovó Luiza não apenas proporciona um importante suporte emocional para a filha, como também cuida das netas enquanto Edna está trabalhando. “Minha mãe é tudo pra mim”, ela resume. “Por tudo que tenho, eu sou grata a ela.”