Toda vez que a pequena Vitória Soares, de 7 anos, passa na frente da fábrica da Quatá de Bom Jesus dos Perdões, ela aponta para o local com orgulho e diz: “É ali que o meu pai trabalha”. Seu pai é o porteiro Flávio Frota Soares, que ocupa a mesma função naquele endereço desde 2011, quando a fábrica ainda pertencia ao grupo Leite Mania.
Vitória tem esse nome por uma razão especial. A filha única de Flávio e de sua esposa, Sandra, foi diagnosticada ainda no útero da mãe com uma condição genética rara chamada Síndrome de Turner. A doença pouco afeta a mente, mas tem algumas consequências graves no corpo, como problemas no desenvolvimento dos ossos e malformações cardíacas. “O médico aqui da cidade chegou a recomendar um aborto”, conta Flávio. “Mas fomos para Campinas e lá recebemos o melhor tratamento possível.”
Com apenas 12 dias de vida, ela precisou se submeter a uma delicada cirurgia no coração que, felizmente, foi bem-sucedida. Algumas consequências a acompanharão pelo resto da vida, como deformações ósseas e baixa estatura. “Nós sabíamos que ela teria que lutar muito”, conta Flávio. “Por isso, escolhemos esse nome.”
Flávio também tem uma história de luta. Filho de pais piauienses que imigraram para São Paulo, ele começou a trabalhar aos 14 anos de idade, no Ceagesp, o maior entreposto de alimentos do País situado na capital paulista. “Ajudava a carregar compras e a cuidar de carros”, ele lembra. Aos 18 anos, prestou serviço militar e acabou estendendo sua permanência por sete anos, como cabo do Exército, exercendo funções como cuidar de veículos, armamentos e munições. Em um dia de folga, porém, sofreu uma grave fratura na perna em um acidente de moto e foi obrigado a abandonar o sonho de seguir a carreira militar.
Uma porta se fechou, outras se abriram. Durante o período de recuperação do acidente, mudou-se com os pais para a cidade de Nazaré Paulista, vizinha a Bom Jesus dos Perdões. Foi lá que conheceu Sandra e teve a oportunidade de começar nova carreira na área de vigilância e portaria, por coincidência, a mesma profissão do seu pai.
Flávio é um pai extremamente amoroso e dedicado à filha. Um exemplo disso acabaria dando origem a uma bela história envolvendo Vitória. Certo dia, há cerca de dois anos, ele trouxe para casa a cesta básica recebida da Quatá. Assim que retirou os mantimentos, a filha entrou na caixa de papelão e começou a imaginar que estava dirigindo um carrinho de brinquedo. Para deixá-la ainda mais contente, Flávio embarcou na fantasia e propôs que ambos trabalhassem juntos na transformação da caixa em um autêntico carrinho. Passaram horas recortando janelas, criando direção e pintando portas, rodas e faróis.
Para guardar aquele momento, os pais fotografaram a arte em família e compartilharam as imagens em suas redes sociais. Já estavam suficientemente felizes com o momento de união e diversão quando ficaram sabendo que as imagens tinham chegado à empresa que fornece as cestas básicas e à Quatá. Em ambas, a dedicação de Flávio foi reconhecida e recompensada. “Alguns dias depois, recebemos uma caixa da empresa que fornece as cestas, cheia de doces, livros e brinquedos”, ele conta. “Na Quatá, funcionários se juntaram para comprar um carrinho elétrico para a Vitória.” O brinquedo trouxe ainda mais alegria para a menina, que se orgulha da empresa em que o pai trabalha.